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A psicologia no HRAC–USP (2013)

  • Autor:
  • Autor USP: PIMENTEL, MARIA CECILIA MUNIZ - HRAC
  • Unidade: HRAC
  • Subjects: PSICOLOGIA; ANORMALIDADES CRANIOFACIAIS; HOSPITAIS
  • Language: Português
  • Abstract: A dinâmica psicológica da pessoa com malformação craniofacial está sujeita à influência de fatores familiares, psico-sociais e culturais. Vivendo numa sociedade que valoriza a estética e a comunicação, as pressões do meio são percebidas em idade precoce pelo paciente, que passa a desenvolver graus de expectativa, ansiedade e, por vezes, sentimento de urgência de adequação aos padrões vigentes. A proposta do serviço de Psicologia no HRAC é atuar de forma preventiva e terapêutica, ao longo de todo o processo de tratamento, no ambulatório e na internação. O paciente é acompanhado sob a ótica clínica e hospitalar no decorrer de seu desenvolvimento, pois em cada fase as demandas relacionadas à malformação adquirem contornos diferentes. O atendimento ambulatorial se concentra na prevenção e detecção de distúrbios emocionais e psicológicos, no apoio aos tratamentos específicos e no preparo do paciente para procedimentos invasivos e internações. Durante os períodos de hospitalização o atendimento objetiva promover a integração do paciente à rotina hospitalar e atenuar angústias e ansiedades envolvidas no processo de internação e cirurgia. Os pais também são alvo de atenção, pois a aceitação familiar desempenha papel fundamental para a adequação da auto-estima e o desenvolvimento emocional equilibrado do paciente. A espera de um bebê é cercada de idealização e expectativas de gratificação por parte dos pais. O anúncio, pré-natal ou no nascimento, de uma malformação, evoca uma gama variada de emoções e reações parentais. Elas podem se mostrar direta ou inversamente proporcionais à severidade da lesão e fatores sócio-culturais, personais, religiosos e situacionais influenciam na natureza e intensidade destas reações. A existência da malformação representa no mínimo um desafio, podendo se configurar como um choque e umaexperiência geradora de ansiedade e angústia para os pais. Freqüentemente eles deixam a maternidade com muitas dúvidas, pois as equipes de obstetrícia nem sempre conseguem prover os esclarecimentos, as informações e o suporte emocional de que necessitam. Em geral eles querem orientações quanto à alimentação, cuidados com o bebê e recursos cirúrgicos. Além disso desejam compreender no que consiste a malformação e, muitas vezes, esclarecer dúvidas que afastem suas suspeitas de alguma culpa pessoal ou do parceiro. A aparência facial do bebê desperta sentimentos e reações da família e de outras pessoas, de modo que um comportamento frequente, num primeiro momento, costuma ser a tentativa de proteger a criança, tanto quanto possível, dos olhares alheios. O processo de enfrentamento e aceitação da nova realidade passa por estágios de intensidade e duração variáveis. DROTAR (1975 ) apresentou uma sequência hipotética de reações que caracterizam este processo, constituída por fases de choque, negação, tristeza e raiva, equilíbrio e reorganização. Há pais que conseguem boa resolução em curto período de tempo, mas há também aqueles que mergulham num persistente processo de luto. A oportunidade da vivência antecipada deste processo, e antes das demandas todas que o cuidado com o bebê requer, é possível a partir do diagnóstico ultrassonográfico pré-natal. Ele possibilita informar os pais e oferecer-lhes suporte adequado durante o período subseqüente da gestação, dando-lhes a oportunidade de elaborar, aprofundar e detalhar suas dúvidas e preparar-se para uma experiência mais positiva por ocasião do nascimento do bebê. O suporte a o aconselhamento dados aos pais devem visar a resolução adequada do processo de enfrentamento, pois as reações iniciais não trabalhadas podem perdurar e afetar a vinculação com o bebê e aprópria dinâmica familiar. Os objetivos são focados na resolução do luto e no estabelecimento do vínculo com o bebê, e não com a malformação. Na fase pré-escolar é possível identificar atitudes provocadas pelas emoções não resolvidas dos pais, numa tentativa de compensação, de reparação e de expiação da culpa. A superproteção, a permissividade, a superindulgência dos pais e parentes próximos são achados comuns nas famílias, com conseqüências negativas na educação do filho e no seu desenvolvimento emocional. A fase da escolarização amplia o meio relacional e exige da criança, além das demandas para o aprendizado acadêmico, a capacidade crescente de convívio e superação de dificuldades com seus próprios recursos, longe da intermediação dos pais. Freqüentemente, é com a entrada para a escola que se dá o primeiro contato com o preconceito e a sensação de ser de alguma forma diferente, quer pela aparência, quer por alterações de fala. Mesmo sob a preconização da educação inclusiva, são comuns as ocorrências de problemas no convívio escolar. As dificuldades do corpo docente no enfrentamento dessas situações dão margem à instalação de um processo de rotulação e estigmatização da criança, que pode afetá-la profundamente. A vivência da diferença e o peso do preconceito, traduzido em provocações e hostilidade, acarretam prejuízo da auto-estima e provocam reflexos consistentes no aproveitamento acadêmico. O contato que o psicólogo do HRAC estabelece com a escola visa a informação, conscientização e instrumentalização do professor para o exercício de papéis informativo e formativo junto à comunidade escolar. Com sua adesão e atuação adequada, ele se torna, de certa forma, participante ativo no processo de reabilitação do aluno que é paciente do HRAC. O processo de reabilitação é complexo eprolongado, de forma que, mesmo recebendo cuidados de uma equipe multiprofissional desde o nascimento, o adolescente em tratamento tem ainda uma aparência distinguível, numa fase do desenvolvimento em que a identificação com os pares e o sentimento de pertencimento ao grupo são importantes. Os anos iniciais da adolescência são ainda mais críticos, porque o valor atribuído à aparência física é maior. Ser percebido como diferente deixa o adolescente numa situação de desvantagem, pois a diferença é vista como inferioridade. Aos esforços para adequar-se e obter aprovação somam-se a necessidade de atendimento às demandas crescentes de preparo e ingresso na vida adulta, entre elas a escolha vocacional e profissional adequada e significativa. O ajustamento psicossocial do adulto depende da sua história pessoal, do grau de sucesso no tratamento, do suporte familiar e das influências sociais e culturais recebidas. Quando existe insatisfação na vida adulta, com os resultados estéticos ou funcionais, em geral vem acompanhada da percepção de que as desvantagens e as dificuldades ao longo do desenvolvimento influíram em algum outro aspecto, como aquisição educacional e profissional, vida familiar e afetiva, integração social. Os resultados positivos do tratamento, por sua vez, mostram uma correlação com o grau de aceitação da própria condição, por parte do paciente adulto, que parece fazer um dimensionamento da própria experiência, integrando a malformação no contexto de vida mais amplo, equacionadas as inerentes perdas e os ganhos. Ao longo do tratamento são necessárias outras cirurgias, além das primárias, que implicam em novas experiências de internação. A vivência emocional da hospitalização é diversa, conforme a fase do desenvolvimento do paciente. Em geral ela implica numa quebra da rotina e desencadeia sentimentos deragilidade, impotência e dependência. Procedimentos cirúrgicos estão relacionados a diversos temores: do desconhecido, da hospitalização, exames invasivos, sofrimento físico, possíveis complicações, violação da intimidade, perda do controle, mutilação, morte. No preparo psicológico é importante estimular a expressão de sentimentos, temores, crenças, de modo que se faça a identificação do estado emocional do paciente e a mobilização e fortalecimento de recursos de enfrentamento para a experiência de hospitalização. Na assistência prestada ao paciente e seu acompanhante durante a internação, o psicólogo visa incentivar a integração ao ambiente e à rotina hospitalar, o manejo de medos, ansiedades e expectativas, a cooperação e o auto-cuidado. Também atua para promover o estímulo à confiança na equipe, a assimilação da experiência hospitalar e a reorganização, por ocasião da alta. Na iminência de alguns procedimentos invasivos, como a nasofaringoscopia, o paciente em idades mais precoces também passa por preparo psicológico, que visa identificar fantasias, temores, ansiedade e resistências ao exame, avaliar a disponibilidade de padrões de comportamento cooperativo e desenvolver sentimento de segurança e a confiança na equipe, de modo a conseguir sua colaboração para a realização do procedimento. Na atuação junto a comissões multiprofissionais que desenvolvem programas específicos no HRAC, o psicólogo contribui com parecer para o estabelecimento de condutas a serem aplicadas. Também avalia aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais do paciente, fornecendo subsídios à equipe, que colaborem no planejamento e condução do tratamento. Por outro lado, atua no sentido de esclarecer, orientar, motivar e apoiar os pacientes e acompanhantes, oferecendo-lhes suporte durante o processo. O papel do psicólogo no HRACconsiste, primordialmente, em atuar junto ao paciente e família, prevenindo e intervindo conforme as demandas que se apresentem ao longo do tratamento. Outra vertente dessa atuação se volta para a relação do paciente e família com a equipe. Compreendendo e intermediando a dinâmica desse vínculo, o acompanhamento psicológico se desenvolve em nome do cuidado e da assistência humanizada
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  • Conference titles: Curso de Anomalias Congênitas Labiopalatinas

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    • ABNT

      PIMENTEL, Maria Cecília Muniz. A psicologia no HRAC–USP. 2013, Anais.. Bauru: Universidade de São Paulo, Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, 2013. Disponível em: https://repositorio.usp.br/directbitstream/300b2a79-6227-464f-8e7f-bc1766808626/2422730.pdf. Acesso em: 19 abr. 2024.
    • APA

      Pimentel, M. C. M. (2013). A psicologia no HRAC–USP. In Anais. Bauru: Universidade de São Paulo, Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais. Recuperado de https://repositorio.usp.br/directbitstream/300b2a79-6227-464f-8e7f-bc1766808626/2422730.pdf
    • NLM

      Pimentel MCM. A psicologia no HRAC–USP [Internet]. Anais. 2013 ;[citado 2024 abr. 19 ] Available from: https://repositorio.usp.br/directbitstream/300b2a79-6227-464f-8e7f-bc1766808626/2422730.pdf
    • Vancouver

      Pimentel MCM. A psicologia no HRAC–USP [Internet]. Anais. 2013 ;[citado 2024 abr. 19 ] Available from: https://repositorio.usp.br/directbitstream/300b2a79-6227-464f-8e7f-bc1766808626/2422730.pdf


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