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O uso de estratégias gerativas no ensino da ortografia o uso de procedimentos de memorização/fixação de palavras (2004)

  • Authors:
  • Autor USP: HAGE, SIMONE ROCHA DE VASCONCELLOS - FOB
  • Unidade: FOB
  • Subjects: ENSINO; MEMORIZAÇÃO
  • Language: Português
  • Abstract: As escritas de natureza alfabética têm, em sua essência, uma correspondência entre os fonemas que constituem as palavras faladas e as letras criadas para representa-los. Assim, como regra geral, para escrever faz-se necessário uma análise dos sons que constituem as palavras a fim de se decidir que letras usar para grafá-las. Com a leitura ocorre o processo inverso, isto é, a partir das letras impressas, deve-se procurar os sons correspondentes e juntá-los a fim de proceder à identificação das palavras representadas (FERREIRO, 1988; GOODMAN, 1995; ALEGRIA, LEYBAERT E MOUSTY, 1997).  A complexidade das relações entre letras e sons varia de língua para língua, de acordo com as regras de cada uma delas. A análise das características da ortografia do português revela normas e relações complicadas, principalmente no que diz respeito às associações entre fonemas e grafemas. Em muitas situações há uma relação estável entre letras e sons, de modo que um som é representado sempre pela mesma letra, o que facilita a associação. Entretanto, encontramos, freqüentemente, sons que podem ser escritos por mais do que uma letra, como os fonemas /s/, /z/ e /k/. E mais, podemos ainda encontrar uma mesma letra representando mais do que um som, como acontece com o “c”, que pode grafar os fonemas /s/ ou /k/, dependendo do contexto (CAVALCANTE e REGO, 1999; ZORZI, 2003). Assim sendo, uma criança aprendendo a escrita do português necessitará desenvolver uma série de capacidades, comorealizar análises fonológicas precisas a fim de que possa identificar os fonemas que compõem as palavras que deseja escrever. Além do mais, existem diversas regras que obrigam quem escreve a considerar, além de cada fonema em si, o contexto de ocorrência. Tais regras contextuais requerem uma análise dinâmica da estrutura sonora/gráfica das palavras no sentido de se identificar não somente o fonema a ser escrito, mas também o que o antecede e o que vem ) depois (CATTS, 1999; LYON, 1999; MCGUINESS, MCGUINESS e DONOHUE, 1995; OLOFSSON, 2000). Podemos acrescentar, ainda, habilidades para poder identificar em diferentes palavras, as mesmas estruturas sonoras, como é o caso de determinados morfemas, o que permite realizar as generalizações que caracterizam o caráter gerativo da escrita (REGO e BUARQUE, 1997; MORAIS, 2000). Tais habilidades dizem respeito a um tipo de conhecimento denominado metalingüístico, ou seja, à capacidade de poder analisar ou refletir sobre a própria língua, no sentido de compreender suas características e funcionamento (RUEDA, 1993; NAVAS, 1997; SIGNORINI, 1998; CIELO, 2001). Embora o desenvolvimento desta capacidade seja essencial para a aprendizagem efetiva da escrita, nem sempre isso é estimulado em situações clínicas ou pedagógicas. Êênfase muito maior tem sido dada ao treino de habilidades de memória ou fixação de palavras, como se, para dominar uma escrita de natureza alfabética, o ponto fundamental fosse treinar a memorizaçãode todas as palavras da língua. Como resultado de uma má compreensão do que é a ortografia, assim como do uso de procedimentos pouco condizentes com a natureza da escrita alfabética, temos encontrado muitas crianças com dificuldades de aprendizagem, além de um desinteresse por tal aprendizado (SILVA, 1986; CAGLIARI, 1998; GATÉ, 2001) Objetivo:O objetivo desta pesquisa é o de verificar se o ensino/aprendizado da ortografia pode ser mais eficiente e motivador quando lança mão de estratégias metalingüísticas. Mais especificamente verificar se, ao ser levada a refletir sobre determinadas características da língua, como as relações entre sons e letras, o contexto de ocorrência e as semelhanças morfológicas entre as palavras, a criança estaria frente a um procedimento mais facilitador para a aprendizagem da escrita. Por outro lado, confirmar se procedimentos centrados sobre processos de ) memorização e automatização são menos motivadores e eficientes. Há uma grande carência de pesquisas neste sentido que se confirma pela ausência de dados na literatura, principalmente em se tratando da escrita do português do Brasil. Métodos: A partir de um questionário respondido por professores apontando alunos sem queixas de dificuldades quanto à linguagem oral, leitura e escrita, foram selecionados 64 sujeitos, de ambos os sexos, de duas escolas públicas de Minas Gerais, cursando a 3ª série do ensino elementar, com idades variando entre 8 anos e 6 meses a 9 anos e 11meses. Estes sujeitos não apresentaram problemas auditivos ou fonológicos, de acordo com os resultados obtidos em uma triagem audiológica, e a avaliação fonológica do teste ABFW (ANDRADE, BEFI-LOPES, FERNANDES e WERTZNER, 2000). Os sujeitos foram divididos, aleatoriamente, em 2 grupos iguais. Ambos realizaram leitura e ditados envolvendo 30 palavras familiares e 30 pseudopalavras (verbos verdadeiros e “falsos” no presente do subjuntivo, palavras que não apresentam correspondência exata entre o modo de falar e escrever e palavras reais e falsas com relações de derivação). O grupo 1, denominado “fixação”, realizou primeiramente uma leitura das palavras e pseudopalavras, em seguida um ditado das mesmas, sofreu correção pelo examinador, copiou 5 vezes cada palavra errada e voltou a fazer os mesmos ditados a fim de verificar se os erros diminuíam ou não. Foi usada uma estratégia de memorização. O grupo 2, denominado estratégia “gerativa” realizou a mesma seqüência de atividades, com a diferença de que em vez de correção por parte do professor e cópia das palavras erradas, houve uma atividade de comentários a respeito dos erros e uma análise, por parte das crianças, das semelhanças sonoras/morfológicas entre as palavras ditadas e a busca de outras que tivessem a mesma configuração sonora e ortográfica. As atividades foram registradas ) das crianças através de análise descritiva e teste de hipótese para comparar a eficácia das atividades e o domínio ortográfico.Resultados: A partir da análise do valor mediano entre os dois grupos, constatou-se que o grupo gerativo cometeu menos erros após as atividades realizadas. Nos dois grupos pode-se verificar um aumento de número de palavras escritas corretamente em razão das atividades realizadas, sendo que o grupo gerativo teve maior número de palavras corretas. No grupo fixação (1) há uma variação de erros entre 0-76, com as maiores concentrações de crianças entre os valores 4-12 (16%), 28-32 (13%) e 40-48 erros (18%). No grupo gerativo (2) os erros variam de 0-48, sendo que os sujeitos estão concentrados principalmente entre 8-12 (22%) e 16-20 erros (19%). Além de objetivar a análise dos erros, esta pesquisa teve como enfoque registrar como as crianças reagiram frente às diferentes propostas. O grupo exposto às estratégias gerativas mostrou-se interessado e motivado para analisar as palavras de acordo com suas estruturas e semelhanças sonoras, mostrando-se hábil para estabelecer relações entre as palavras reais e as falsas palavras, o que resultou em um menor número de erros. O grupo fixação, ao contrário, já foi perdendo o interesse ao fazer as cópias das palavras erradas do primeiro ditado. Poucas se interessaram pelas pseudopalavras. O tempo para realização das atividades foi mais longo, havia desvio de atenção para fatos paralelos, alegação de cansaço e desmotivação para a continuação da proposta. Três crianças deste grupo desistiram por estes motivos, enquantosomente uma do grupo gerativo teve o mesmo problema. As desistências levaram a um remanejamento do número de sujeitos, permanecendo 32 em cada grupo. Conclusões Atividades voltadas para a escrita das palavras, quer sejam de natureza mnemônica ou reflexiva, podem levar as crianças a um maior domínio da ortografia. Entretanto, estratégias mecânicas envolvendo leitura, ditado e cópia, apresentam-se como menos motivadoras e eficientes do que estratégias que levem as crianças a refletirem sobre a linguagem, tendo como objetivo o desenvolvimento de habilidades metalingüísticas e não simplesmente de memória ou fixação. Este estudo confirma que o ensino/aprendizado da ortografia pode ser mais eficiente e motivador quando leva a criança, por meio de uma análise ativa, a refletir sobre determinadas características da língua, como as relações entre sons e letras, o contexto de ocorrência e as semelhanças morfológicas entre as palavras enquanto que, procedimentos centrados em processos de memorização e automatização são menos motivadores e eficientes
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  • Conference titles: Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia

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    • ABNT

      ZORZI, Jaime Luiz et al. O uso de estratégias gerativas no ensino da ortografia o uso de procedimentos de memorização/fixação de palavras. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo: SBFa. . Acesso em: 04 maio 2024. , 2004
    • APA

      Zorzi, J. L., Hage, S. R. de V., Pimentel, L. da, & Silva, S. de C. R. (2004). O uso de estratégias gerativas no ensino da ortografia o uso de procedimentos de memorização/fixação de palavras. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo: SBFa.
    • NLM

      Zorzi JL, Hage SR de V, Pimentel L da, Silva S de CR. O uso de estratégias gerativas no ensino da ortografia o uso de procedimentos de memorização/fixação de palavras. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004 ; 9[citado 2024 maio 04 ]
    • Vancouver

      Zorzi JL, Hage SR de V, Pimentel L da, Silva S de CR. O uso de estratégias gerativas no ensino da ortografia o uso de procedimentos de memorização/fixação de palavras. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004 ; 9[citado 2024 maio 04 ]


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