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Estudo de caso: afasia (2005)

  • Autor:
  • Autor USP: CALDANA, MAGALI DE LOURDES - FOB
  • Unidade: FOB
  • Subjects: AFASIA; LINGUAGEM ORAL
  • Language: Português
  • Abstract: É por meio da linguagem que os indivíduos relacionam-se na sociedade, adquirem conhecimentos, compartilham emoções e pensamentos. Existem várias formas de linguagem utilizadas pelo homem, dentre as quais se destaca a linguagem oral e a linguagem escrita. Essas, por se tratarem de mecanismos complexos e refinados, diferenciam o homem dos outros seres vivos. A linguagem, segundo Mac-Kay (2003), é uma das bases do intelecto humano e tem um papel importantíssimo na formulação do pensamento e na forma como imprimimos significados ao mundo que nos rodeia. Ainda, constitui parte dos mecanismos de raciocínio e solução de problemas, além de possibilitar uma das mais eficazes formas de comunicação humana. Com o poder da linguagem, o homem interage com o meio que o cerca, organiza e compreende o seu mundo, transmite e defende suas idéias. Abruptamente, esse poder pode ser perdido, total ou parcialmente, em decorrência de um dano cerebral, acarretando um comprometimento na linguagem, descrito como afasia. A afasia é uma patologia que vem sendo estudada e debatida ao longo dos anos, desde meados do século XIX, quando anatomistas e fisiologistas empenharam-se em decifrar as funções cerebrais, dentre elas a linguagem. De lá para cá muitos anos se passaram e ainda hoje a afasia se caracteriza como a patologia mais controversa da área fala-linguagem, isto porque o cérebro humano ainda permanece sendo um mistério para muitos estudiosos, dada a complexidade e o dinamismo de seufuncionamento. Apesar das grandes dúvidas ainda existentes sobre a afasia, sabe-se que a mesma apresenta-se como um distúrbio da linguagem que compromete expressão e compreensão falada e escrita, o que contribui para restringir a comunicação do indivíduo e dificultar suas relações sociais. \" A afasia é a perda completa ou parcial da faculdade de expressar pensamentos por meio da fala, da escrita ou de gestos, podendo interferir, da mesma forma, na ) na capacidade de compreender o que é falado e/ou escrito\" (Lamônica, Minervino-Pereira, Ferreira, 2000, p.13). Segundo Murdoch, 1997, \"a afasia tem sido definida como a perda ou a deficiência da linguagem provocada por dano cerebral\" (p.53). Os principais fatores causais da afasia, segundo o autor são: os distúrbios cérebro vasculares, que podem ser divididos em dois tipos principais, as lesões isquêmicas e as lesões hemorrágicas; os tumores intracranianos (neoplasmas); os traumatismos cranianos; os distúrbios degenerativos, tóxicos, desmielinizantes e infecciosos. MANSUR (1999), definiu afasia como uma alteração no conteúdo, forma e uso da linguagem e processos cognitivo subjacentes, tais como percepção, compreensão e memória, caracterizada por redução e disfunção, que se manifestam tanto no aspecto expressivo quanto receptivo da linguagem oral e escrita. Segundo Murdoch (1997), a afasia pode ser ocasionada por qualquer acometimento que cause dano ao cérebro, como traumatismos cranioencefálicos (TCE), tumores,doenças degenerativas, processos infecciosos do Sistema Nervoso Central (SNC) e, principalmente, acidentes vasculares encefálicos (AVE). No entanto, é a localização e a extensão neuroanatômica da lesão, ao contrário do agente causador, que determina o tipo e o grau do comprometimento da linguagem. Morato et al (2003) comentaram que as afasias podem variar desde o tipo que impede qualquer possibilidade expressiva ou interpretativa até aquele em que as dificuldades de linguagem são praticamente imperceptíveis. Segundo os autores, essa variação tem razões diversas, e não está apenas na dependência de uma causa orgânica. Assim, ela vai depender de fatores diversos como a gravidade do comprometimento neurológico, a capacidade de regeneração ou plasticidade cerebral, a maneira como a pessoa reage à sua afasia e a maneira como se lida socialmente com ela. Esta variação diz respeito também a ) vasta classificação das manifestações de linguagem apresentadas pelos pacientes afásicos, pois, por ser a afasia uma alteração que compromete os processos da linguagem. Castro et al. (2001) afirmaram que as funções lingüísticas ficam desorganizadas ou severamente limitadas de acordo com o nível de lesão do Sistema Nervoso Central (SNC) e, conseqüentemente, restringem as interações sociais e familiares. No entanto, a linguagem não é afetada de forma generalizada, pois, as lesões em diferentes partes do córtex cerebral perturbam funções específicas da linguagem. Assim, os indivíduosafásicos podem apresentar alterações na linguagem oral e/ou na linguagem escrita que dependerão da localização e da extensão da lesão cerebral. Dentre as várias manifestações presentes na linguagem destes pacientes, autores como Fontanari (1991), Engelhardt et al. (1996), Jakubovicz & Cupello (1996), Ortiz (1999), Santana (2001b) e Mansur & Senaha (2003) descreveram algumas como sendo as mais freqüentemente encontradas, como podemos observar a seguir: O afásico possui um prejuízo da linguagem, com alterações nos níveis produtivos e/ou interpretativos, causados por uma lesão estrutural adquirida no Sistema Nervoso Central, decorrente de acidentes vasculares cerebrais, traumatismos cranioencefálicos ou tumores (Morato et al. 2002). Junqué et al. (2001), descreveram que o lesionado cerebral pode apresentar transtornos físicos, cognitivos, emocionais e de comportamento que trarão alterações e mudanças nas atividades de vida diária causando impacto sobre a família. Segundo dados da ASHA (2003) e Morato et al. (2002), as mudanças ocasionadas pela afasia são geralmente súbitas e inesperadas, e que se tornam um grande desafio para a própria pessoa afetada e para seus familiares. O afásico pode passar por etapas difíceis, e para superar tais dificuldades, os familiares e amigos são fundamentais nesta reestruturação e poderão ) ajudá-lo a buscar novas habilidades comunicativas. Na clínica fonoaudiológica a intervenção do lesionado cerebral deverá iniciar-se por umaanamnese detalhada que possibilite um entendimento do caso antes e após o acometimento cerebral. Após a entrevista inicial deverão ser iniciados os procedimentos de avaliação, que têm por objetivo o diagnóstico diferencial e a delimitação dos procedimentos terapêuticos. A avaliação do afásico deve possibilitar a descrição das alterações, mas também dos aspectos preservados da fala e/ou linguagem e o clínico poderá usar testes ou protocolos de avaliação, como por exemplo, o Teste de Boston (Kaplan; Godglass, 1974), Teste de Minnesota (Schuell, 1965), Perfil de Comunicação Funcional (Taylor, 1972). A seleção dos procedimentos de avaliação deve ser conduzida pelas particularidades de cada caso, porém deve contemplar os aspectos de expressão e recepção da linguagem oral e escrita em situações dirigidas e discursivas, além de provas específicas de voz, motricidade oral e avaliação audiológica, dentre outras. A terapia fonoaudiológica deve ser direcionada considerando as manifestações fonoaudiológicas, assim, o método terapêutico escolhido direcionará a reabilitação, abrangendo todos os aspetos comprometidos. Um enfoque do processo terapêutico fonoaudiológico deve ser o trabalho com os famíliares, orientando-os sobre como lidar com a nova condição da deficiência e ir se adaptando às situações comunicativas do dia a dia (Taylor, 1982; Labourel, 1995; Davis, 1997, Minervino-Pereira, Lamônica, 1999). Há a necessidade do familiar compreender o tipo de distúrbio dacomunicação que seu membro afásico apresenta para o favorecer o entendimento do processo patológico que este indivíduo está vivenciando e assim, poder auxiliá-lo com estratégias facilitadoras de comunicação, que deverá aprender durante sua participação como sujeito ativo no processo reabilitador. A terapia ) das afasias sem dúvida envolve uma complexidade de fatores que permeiam a reabilitação. A descrição detalhada da semiologia afásica, a escolha adequada do método terapêutico e o trabalho com a família, são pontos relevantes da intervenção fonoaudiológica. Referências Bibliográficas ASHA (American speech language hearing association). Family adjustment to aphasia. Disponível em URL:// www.asha.org [ 2003 mar 24 ]. CASTRO SAF de N. et al. Abordagem discursiva no tratamento da afasia de Wernicke: a eficácia da intervenção fonoaudiológica. Pró-Fono, Carapicuíba, v.13, n.2, p. 204-211, set. 2001. DAVIS, P.M. 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    • Título do periódico: Anais
  • Conference titles: Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia

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    • ABNT

      CALDANA, Magali de Lourdes. Estudo de caso: afasia. 2005, Anais.. Santos, SP: Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, 2005. . Acesso em: 24 abr. 2024.
    • APA

      Caldana, M. de L. (2005). Estudo de caso: afasia. In Anais. Santos, SP: Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.
    • NLM

      Caldana M de L. Estudo de caso: afasia. Anais. 2005 ;[citado 2024 abr. 24 ]
    • Vancouver

      Caldana M de L. Estudo de caso: afasia. Anais. 2005 ;[citado 2024 abr. 24 ]


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